Assembleia geral
PRESIDENTE: Maria João Sobreira dos Santos | Silvina Raimundo, Lda.
1º Secretário: Patrícia Paquete | Pastelaria Tricana de Aveiro
2º Secretário: Carlos Miguel Ministro dos Santos | Ministro & Santos, Lda.
Associação de Produtores de Ovos Moles de Aveiro, com a abreviatura APOMA, é uma pessoa coletiva de direito privado, de tipo associativo e sem fins lucrativos, criada por tempo indeterminado, que se rege pelo constante dos presentes Estatutos e, em tudo o que for omisso, pelas disposições do Código Civil e demais legislação aplicável.
A Associação tem a sua Sede no Mercado Municipal de Santiago, R. Ovar, nº 106, 1º AA, AB, 3810-145 na cidade de Aveiro. O âmbito geográfico da sua atuação é o correspondente ao espaço constituído pelos Concelhos de Aveiro e seus limítrofes, que confinam com a Ria de Aveiro.
Ao longo destas últimas duas décadas a Associação de Produtores de Ovos Moles de Aveiro tem cumprido com a sua missão fundadora: proteger, valorizar e manter vivo para as gerações vindouras este ex libris da doçaria tradicional portuguesa.
Esta tarefa tem sido possível porque temos sabido, enquanto produtores, interpretar os sinais exigentes do mercado e a estes estímulos responder com a força que apenas um agrupamento unido consegue transmitir: aumentar a quantidade mas sem nunca comprometer a qualidade.
Este compromisso de todos na defesa da história, vernaculidade da receita e do saber fazer aliados ao respeito pelas formas tradicionais de apresentação serão a garantia da perenidade deste doce que há mais de cinco séculos encanta quem o consome.
José Francisco Matos da Silva – Presidente
1998
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A 20 de maio de 1998 - Convocatória dirigida pela Confraria Gastronómica de S. Gonçalo aos produtores de ovos moles, para uma reunião alusiva à certificação dos ovos moles de Aveiro.
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1999
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Em setembro de 1999 começam os estudos de caraterização química, física e sensorial dos Ovos Moles de Aveiro na Universidade de Aveiro no Departamento de Química.
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2001
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Constituição da APOMA a 4 outubro de 2000 com 11 sócios fundadores
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2002
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Póster científico com o tema “Implicação de boas práticas de autocontrolo na qualidade de um produto tradicional – Ovos Moles de Aveiro”, tendo este sido aprovado e convidado a participar no congresso a realizar no Porto nos dias 24 e 25 de Maio de 2002.As técnicas da APOMA tendo tomado conhecimento do congresso “Food Safety” organizado pelo IPATIMUP – Instituto Patologia Imunologia Molecular da Universidade do Porto, e sendo as áreas abordadas neste congresso – Novas Ferramentas na Segurança alimentar, HACCP (Hazard Analysis of Critical Control Points) – Problemas na sua implementação em Portugal e Segurança Alimentar na indústria das aves – de interesse e uma mais valia na área de trabalho actualmente a desenvolver, inscreveram-se neste congresso. Foi pedido autorização à Direcção da APOMA para envio de um abstract (resumo do trabalho efectuado) para submissão de um
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2003
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Póster científico com o tema “–Ovos Moles de Aveiro – Percurso para a proteção como produto tradicional de Indicação Geográfica” no VI Encontro de Química dos alimentos” organizado pela SPQ e IPIMAR, 22 e 25 junho de 2003.
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2004
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- Ação de promoção e divulgação dos Ovos Moles de Aveiro nos aviões da TAP durante o EURO 2004.
A estratégia da TAP na promoção de produtos tradicionais portugueses nos locais onde o EURO 2004 se iria realizar, permitiu que o produto escolhido para representar a gastronomia portuguesa tivessem sido os Ovos Moles de Aveiro. - A 22 de maio é inaugurada a sede da APOMA no Mercado Municipal de Santiago - A 19 junho de 2004 é publicado o aviso nº 6682/ 2004 no DR. II série do pedido de registo de indicação geográfica onde consta a caracterização do produto. |
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2005
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Em 5 de agosto de 2005 é publicado o Aviso nº 7107/2005 no DR. II série do reconhecimento do Organismo Privado de Controlo e certificação para os Ovos Moles de Aveiro – Sagilab.
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2005
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A 6 de março de 2006 é publicado o Despacho nº 5062/ 2006 (2ªsérie DR) sendo reconhecida a proteção nacional de Aveiro para Ovos Moles. O despacho referido anteriormente produz efeitos desde 3 de janeiro de 2006, data do pedido formal de proteção junto da Comissão Europeia.
- A 10 de junho de 2006 foram oferecidos Ovos Moles de Aveiro no dia de Portugal na TAP em todos os aviões de médio e longo curso. |
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2008
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A 22 de julho de 2008 é publicado no JOUE 2008 /C184/11 a Ficha resumo dos Ovos moles de Aveiro
- Em novembro de 2008 - Publicação do livro para crianças “A Cidade dos Ovos-Moles” de Amaro Neves e Ilustração de Jeremias Bandarra Edição ou reimpressão: |
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2009
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- Publicação no dia 8 de abril de 2009, no JOUE, do Reg. (CE) nº 286/2009, da Comissão, de 7 de abril, o qual determinou a inscrição do nome Ovos Moles de Aveiro como Indicação Geográfica Protegida (IGP) no registo comunitário
-A 29 de maio de 2009 o Discurso do Presidente da República (Dr. Aníbal Cavaco Silva) na Sessão Comemorativa dos 250 Anos da Cidade de Aveiro, no qual se refere a importância cultural e económica da gastronomia regional e se assinala a certificação dos ovos moles de Aveiro. |
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2010
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O produto Ovos Moles de Aveiro - IGP está no mercado como produto qualificado desde 1 de julho de 2010. No sector de produtos tradicionais, nomeadamente na classe na qual se inserem os Ovos Moles de Aveiro, foi o primeiro produto de doçaria conventual a ser qualificado na comunidade europeia. Atualmente, Foram 32 produtores que iniciaram o processo de utilização da IGP “Ovos Moles de Aveiro”, tendo 22 produtores o produto certificado no mercado à data
- Comemoração dos 10 anos da APOMA - Comunicação oral ‘Ovos Moles de Aveiro: percurso para a qualificação’, no Colóquio “Qualificação de Produtos Agro-Alimentares – Valorização dos Produtos Tradicionais” na PIMEL 2010 organizada por Terras Dentro a 25 de junho de 2010, em Alcácer do Sal. -Comunicação oral “O processo de qualificação dos Ovos Moles de Aveiro – Indicação Geográfica Protegida’, no Seminário “Alimentas” organizada por VLM a 14 de Abril de 2011, em Aveiro. |
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2011
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- Organização da I Mostra de doçaria Conventual de Aveiro e produtos tradicionais portugueses´´ pela APOMA, a CMA e a QUALIFICA em parceria com o Museu de Aveiro, de 13 a 15 de Maio de 2011 no Museu de Aveiro
- Litografia “Ovos Moles de Aveiro” da autoria do aveirense Jeremias Bandarra - Alteração do Caderno de Especificações dos Ovos Moles de Aveiro - IGP - Comunicação oral ‘O processo de qualificação dos produtos tradicionais: o caso dos Ovos Moles de Aveiro – Indicação Geográfica Protegida’, no 4º Debate sobre a PRU de Ovar – “Pão-de-Ló de Ovar – o desafio da valorização empresarial organizado pela Câmara Municipal de Ovar, 4 de Junho, em Ovar. - Visita de um comité tailandês da Queen Sirikit Department of Sericulture (QSDS) em Aveiro com a APOMA e a QUALIFICA com vista à organização e cooperação em IG entre Phrae-wa Kalasin Thai Silk e produtos portugueses. |
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2012
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- Comunicação oral ‘O alargamento do prazo de validade de um produto tradicional – o caso dos Ovos Moles de Aveiro – Indicação Geográfica Protegida’, nas III Jornadas de Ciência Alimentar organizadas pelo Núcleo de Estudantes de Ciência Alimentar da Associação Académica da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, em conjunto com a Direção do curso de Ciência Alimentar, 16 e 17 de outubro de 2012, em Vila Real
-Apresentação em painel do poster, “Aplicação de espectroscopia de Infravermelho na análise de Ovos Moles de Aveiro”, Qualidade dos Alimentos: Novos desafios – Atas do 11º Encontro de Química dos Alimentos, SPQ –IPIMAR, setembro de 2012 |
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2013
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Publicação do Aviso (extrato) n.º 10165/2013 - Pedido de Alteração de Registo de Indicação Geográfica “Ovos Moles de Aveiro” no DR. II Série, de 12 de agosto de 2013.
- Publicação do livro: Ovos molles 500 anos; APOMA e CMA - Lançamento do Livro “ Ovos molles de aveiro: 500 anos” com testemunhos dos produtores e a compilação de documentos históricos recolhidos nestes últimos anos pela APOMA E CMA e uma adaptação da tese de mestrado da Dra. Patrícia Naia com a informação da história recente da APOMA e do processo de qualificação dos Ovos Moles de Aveiro – IGP - Organização conjunta da II Mostra de Doçaria conventual de Aveiro, ovos moles e produtos da ria de Aveiro com a Câmara Municipal de Aveiro, no Museu de Aveiro de 22 a 24 de novembro de 2013. |
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2014
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Deslocação ao Brasil à Fenadoce, Brasil- O Presidente da direção da APOMA e a Presidente da Assembleia geral estiveram presentes, a convite da organização da Fenadoce/ Pelotas, em junho de 2014.
- Intercâmbio técnico sobre proteção de indicações geográficas como instrumento de desenvolvimento rural- Com o objetivo de Promover Intercâmbio de experiências e conhecimento técnico acerca dos regulamentos e políticas relacionadas ao tema Indicação Geográfica como ferramenta de desenvolvimento a APOMA recebeu uma Missão de Intercâmbio Técnico Brasil - União Europeia em outubro de 2014. - A Dra. Patrícia Naia foi Palestrante especialista internacional na III SIIG, 1a FIIG e FOB na III SIG, realizada em Novembro de 2014, em Ilhéus, Bahia., no Brasil, a convite da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) |
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2015
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Visitas de estudo ao fabrico dos Ovos Moles de Aveiro por um grupo de especialistas da Suíça - A APOMA recebeu o convite para dar formação a um grupo de 25 especialistas da Suíça na área de qualidade e segurança alimentar e nos produtos tradicionais DO e IG’S para conhecer os procedimentos internos da APOMA e o caso de estudo do nosso produto, em abril
- Publicação no JOUE o Reg. (CE) 2015/173 de 28 de setembro de 2015 O processo de alteração do Caderno de Especificações dos Ovos Moles de Aveiro – IGP, que aprova uma alteração não menor do caderno de especificações de uma denominação inscrita no registo das denominações de origem protegidas e das indicações geográficas protegidas para os Ovos Moles de Aveiro (IGP) |
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2016
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- Organização conjunta da III Mostra de Doçaria conventual de Aveiro, Ovos Moles e produtos da ria de Aveiro com a Câmara Municipal de Aveiro, no Museu de Aveiro de 25 a 27 de Novembro.
- Protocolo Câmara Municipal de Aveiro – inicio do Aveiro de Honra - onde se pretende promover o Município de Aveiro e sua Região, em especial na área do Turismo de Negócios, e APOMA enquanto parceira estratégica deste projeto, participa através dos diferentes produtores de Ovos Moles de Aveiro com a demonstração e prova do produto em eventos e congressos. - Litografia da barrica dos Ovos Moles de Aveiro da autoria do pinto aveirense Jeremias Bandarra - Pintura de barrica de ovos moles para Guiness Book pelo pinto aveirense, Jeremias Bandarra |
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2017
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Visita ao Parlamento Europeu a convite do Eurodeputado Miguel Viegas do PCP de um grupos de 20 empresários associados da APOMA onde tiveram oportunidade de visitar a Comissão Europeia, em Bruxelas de 26 de fevereiro a 3 de março. No evento os associados apresentaram o produto a eurodeputados e estiveram presentes importadores e possíveis compradores/ distribuidores do produto no mercado externo convidados pela APOMA
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2018
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- Treino do painel de provadores dos ovos moles de Aveiro com vista acreditação deste parâmetro de análise
Lançamento do livro “A História dos Ovos Moles de Aveiro” da autoria do Prof Rosmaninho e em parceria da Confraria dos Ovos Moles de Aveiro A APOMA e a Universidade de Aveiro em dezembro de 2018. |
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2019
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- Candidatura às 7 Maravilhas – Doces de Portugal dos “OVOS MOLES DE AVEIRO” na categoria de Doces de Território às 7 Maravilhas Doces de Portugal, tendo sido finalista neste concurso
-Estratégia de comunicação para promover os ovos Moles de Aveiro durante o Verão de 2019. |
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2020
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- Comunicação oral no seminário Harmonização: tradição e inovação Curso de formação livre (integrado no Mestrado de Ciências Gastronómicas – FCNAUP/ESHT-IPP, fevereiro 2020
- Comemoração dos 20 anos de APOMA |
O açúcar de cana destacou-se desde cedo como um elemento precioso e rico em propriedades nutritivas. O início da sua produção remonta à antiguidade clássica no território asiático (Índia), surgindo as primeiras referências a esta especiaria em manuscritos de origem chinesa datados do século VII a.C .Já conhecido na Europa desde meados do séc. X, período do qual data o primeiro contacto ocidental com esta especiaria oriunda do Médio Oriente e a sua comercialização através de um entreposto criado na república de Veneza, o seu consumo, inicialmente com fins terapêuticos, generaliza-se a partir do séc. XVI. A Ilha da Madeira, descoberta em 1419, foi durante vários anos a principal fornecedora de açúcar da Europa Ocidental. ÀMadeira juntaram-se a Ilha de São Tomé e,posteriormente, o Brasil (todos territórios de domínio português), o que terá valido aos portugueses o estatuto de maior produtor de açúcar.A partir do século XVI, esta especiaria passou a desempenhar um papel de destaque na alimentação. “Enquanto antigamente só se encontrava açúcar nas boticas dos farmacêuticos que o guardavam apenas para os doentes, hoje devoram-no por gulodice. (…) O que ontem nos servia de remédio serve-nos actualmente de alimento” afirmava, em 1572, o geógrafo Abraham Ortelius.O seu elevado valor e prestígio que lhe valeu a designação de «ouro branco», permitiu que muitos monarcas agraciassem instituições religiosas através da sua cedência.O Convento de Jesus de Aveiro, fundado em 15 de janeiro de 1462, com licença outorgada por D. Afonso V, foi um dos beneficiários de sucessivas concessões de açúcar.D. Manuel I, assim como os seus sucessores, outorgaram vários privilégios ao Mosteiro de Jesus de Aveiro. Em 31 de outubro de 1502, o monarca procedeu a uma “nova concessão, que iria ter grande repercussão na história alimentar de Aveiro.” Consistiu esse benefício na doação de 10 arrobas de açúcar provenientes da ilha da Madeira. Segundo Domingos Maurício Gomes dos Santos “deve datar, de então, o fabrico de doçaria com que o convento beneficiou muitos doentes da vila e deu lugar às afamadas especialidades que ainda, hoje, celebrizam Aveiro, dentro e fora do país.”As sucessivas e avultadas quantidades de géneros alimentares, decorrentes de concessões reais e de foros, que periodicamente afluíam aos conventos, associadas à dificuldade em conservar os bens alimentares, abriram caminho a uma gastronomia conventual que muito contribuiu para um rico e prestigiado reportório gastronómico nacional.Os conventos portugueses, sobretudo os femininos, a partir da introdução massiva de açúcar em Portugal, transformam-se em instituições religiosas com forte vocação para a actividade culinária, mais concretamente, para doçaria, o que leva Lord Beckford , em finais do século XVIII, a referir-se ao mosteiro de Alcobaça como sendo “o mais famoso templo da glutonice em toda a Europa.”.O Convento de Jesus não constituiu uma excepção no panorama gastronómico conventual. Nas suas instalações foram produzidas e comercializadas diversas iguarias do cardápio doceiro português, destacando-se, segundo Aquilino Ribeiro “…os miríficos e celestiais ovos moles, uma das melhores descobertas de Portugal, depoisda Índia, entenda-se…”
Já no século XVIII, as religiosas deste convento eram apelidadas de «cozinheiras e conserveiras», situação que leva Frei João de Mansilha a remeter, a 23 de Julho de 1774, um ofício com as seguintes directrizes à madre superior da instituição:(…) Ordeno a V. R., debaixo de preceito formal de Santa Obediência, e da pena de absolvição do seu Officio, que de nenhuma sorte consinta, que esse Mosteiro esteja feito cozinha, emas pessoas de fóra de qualquer qualidade ou condição que sejam, mandem fazer os seus jantares, ou ceias, como sucede com essas duas Moças, e com outros muios sujeitos; do que resultam todos os inconvenientes por V. R. justamente ponderados; assim de faltarem as Religiozas, como as criadas ás suas precisas obrigaçoens, e de adquirirem por este modo, o indecente, mas bem atribuído titulo de Cozinheiras, e Conserveiras. Esta proibição de tarefas seculares suscita um secretismo em torno da confecção e consumo de doçaria no interior dos conventos o que terá, certamente, dificultado a existência de registos escritos sobre esta actividade. Contudo, permaneceu uma rica tradição oral que, embora com algumas imprecisões, permite restituir uma realidade outrora existente. Para essa reconstituição do passado contribuíram os testemunhos orais de diversos intervenientes no processo de manufactura e comercialização dos actuais ovos moles de Aveiro, designadamente, a D. Silvina Raimundo, D. Rosalina de Jesus, D. Carmina Novo, Sr. António Tavares dos Santos, Sr. Alberto Domingos Gomese D. Maria Clara dos Santos, que tiveram a gentileza de legar as suas memórias em prol da compreensão de uma actividade que em muito contribuiu para a construção da identidade cultural do povo aveirense.Todos os testemunhos são unânimes: a receita do “celestial” doce terá tido origem nas cozinhas do Convento de Jesus, em Aveiro. D. Maria da Encarnação Mourão foi um elemento fundamental na divulgação dos ovos moles fora do contexto religioso.Educada no Convento de Jesus, onde ocupou o lugar de «celeireira», cujas competências passavam pela entrega aos clientes dos produtos comercializados pela instituição (essencialmente, cereais e doces), veio a contrair matrimónio com o senhor Domingos Mourão, cliente habitual do convento e detentor de uma mercearia na rua da Costeira (actual rua de Coimbra).A Confeitaria Mourão, vulgarmente conhecida por «Costeira», foi o primeiro estabelecimento do género em Aveiro. Criada em 1856, veio a tornar-se num local de referência na cidade.Coube a D. Maria da Encarnação Mourão transformar a mercearia fina de seu marido na prestigiada «Casa dos ovos moles». Nesta tarefa foi auxiliada, na confecção dos famosos doces, por Odília dos Anjos Soares, a quem ensinou a secreta receita. Durante vários anos, estes doces foram confeccionados para a Confeitaria Mourão, nodomicílio de D. Odília dos Anjos Soares, na rua da Corredoura (actual rua Batalhão de Caçadores 10), nº 38. Por morte desta, D. Maria da Apresentação da Cruz, sua sobrinha e a quem D. Odília Soares transmitiu o seu dom, deu continuidade ao fabrico e ao fornecimento dos ovos moles para a «Mourão». Com o desaparecimento de D. Maria da Encarnação Mourão, que, devido à morte precoce dos seus dois filhos não deixou herdeiros, a mercearia/confeitaria, passou a ser gerida por Maria da Conceição Anjos.Em 1981, encerram-se derradeiramente as portas daquela que foi a confeitaria que celebrizou os ovos moles de Aveiro. Nela foram formadas no ofício da confeção do doce uma geração de raparigas como a D. Luciana Castro que veio a fundar a pastelaria «Ramos».
Ofim da «Mourão» ditou o inicio de um novo período da doçaria aveirense: D. Silvina da Silva Raimundo disponibilizou-se para dar continuidade à tradição da confecção de ovos moles, cuja a receita herdara da sua sogra. Inicialmente, nas primitivas instalações, na rua Batalhão de Caçadores 10, nº38 (local conhecido como “Forno”) e mais tarde nas instalações da sua residência, na rua D. Jorge Lencastre, em Aveiro, onde actualmente se continuam a produzir, de forma dedicada e fiel à receita original, os famosos doces cujo gosto desperta ainda hoje memórias longínquas.Segundo Maria de Lurdes Modesto, “Os ovos moles são, sem dúvida, uma das mais reputadas e apreciadas especialidades da doçaria tradicional portuguesa, fazem-se em todo o País, para os mais diversos fins (…), mas é em Aveiro que atingem a perfeição máxima, sendo justamente os mais afamados. Vendem-se em barricas de madeira decoradas com pinturas singelas dos barcos moliceiros ou em pequenos bolos moldados em hóstia. Estes doces, que são um réplica perfeita dos elementos marinhos (…) são moldados em hóstia, recheados de ovos moles e depois passados por uma calda de açúcar que se torna opaca esfregando os bolos entre as mãos.”Esta especialidade foi inicialmente vendida nas prestigiadas pastelarias de Aveiro, como a Ramos, a Peixinho e a Veneza, mas o seu prestígio depressa se estendeu ao restante território nacional. A iconografia e a literatura refletem bem a dimensão que os ovos moles têm na identidade da comunidade aveirense e nacional. Muitos autores, de origem nacional e internacional, assim o atestam. Disso são prova as inúmeras referências em obras literárias e o vasto reportório de produções artísticas nas quais se representa o afamado doce, do qual se destaca a prestigiada pintura de Josefa de Óbitos, intitulada Natureza Morta com Doces e Barros, de 1676.Segundo Gustavo de Matos Sequeira, “(…) Lá estão os folares pascais com as suas cruzetas, de massa tostada sobre os ovos cozidos, a tigela de doce de chila, os pães deló na sua cama de papel picotado, as queijadas, os fartens, as hóstias brancas e vermelhas, enformadas como mariscos, para os ovos moles de Aveiro, as granjeias e as obreiras, e tanta doçaria indígena, fofa, gostosa (…)”Quem não terá presente na sua memória a passagem da obra Os Maias de autoria de Eça de Queiroz, que atesta a dimensão internacional da famosa iguaria? «São seis barrilinhos d’ovos moles de Aveiro. É um doce muito célebre, mesmo lá fora. Só o de Aveiro é que tem ”chic”… Pergunte V. Exa. ao Carlos. Pois não é verdade, Carlos, que é uma delícia, até conhecido lá fora?»Eurico Veríssimo, conceituado autor brasileiro, regista, igualmente, em Solo de Clarinete-Memórias, o seu conhecimento relativo ao famoso doce: “À hora da sobremesa Mafalda e Jorge de Sena descobrem uma afinidade: ambos gostam de doces. Penso logo nos ovos moles d’Aveiro, da particular predilecção do nédio Dâmaso Salcede, personagem de Eça de Queiroz”.Dos destacados autores portugueses à literatura de cordel, os ovos moles, ou simplesmente a sua designação, constituíram matéria para entreter os leitores.Também a célebre peça de teatro de revista Ao Cantar do Galo, levada à cena pelo Grupo Cénico dos Galitos dedica a merecida atenção à especialidade que celebrizou Aveiro com as seguintes estrofes:
Ovos Moles são maravilhas
Que seduzem toda a gente
É manjar que sempre brilha
Em delicado presente.
Pelos anjos fabricados,
Têm pureza divinal.
É na terra consagrado
Produto celestial”13
fama e o requinte dos ovos moles ditaram a sua presença obrigatória, não só nas referências literárias e iconográficas, como em todas as refeições festivas. A 27 de novembro de 1908, na sua viagem pelo norte do país, visitou a pitoresca cidade de Aveiro, o monarca D. Manuel II. A sua passagem ficou marcada por grandiosos festejos, entre eles um rico banquete, cuidadosamente organizado pela comissão de festas que contava com a colaboração do de Francisco Silva Rocha, do João de Morais Machado e do João Augusto Marques Gomes. O almoço oferecido a D. Manuel II revestiu-se de enorme variedade e grande riqueza gastronómica, conforme nos dá conta o jornal Campeão das Províncias. “O menu (…)” apresentava-se “enquadrado na elegante tarja (…) desenho do distincto eincansável (…) sr. Silva Rocha”14e dele constavam as seguintes iguarias:Sopa clarificada, sopa de caldeirada, pastéis de camarão, lombo de boi à jardineira, enguias assadas, costeletas de vitela aux champignons, mayonnaise de salmão, leitão assado, perú,espargos, mexilhão de Aveiro, frutas, morcelas de Arouca, pão-de-ló de Ovar, ovos moles e doce de ovos.“O doce foi fornecido pela «Confeitaria Mourão successora»; os leitões assados por um especialista do visinho logar de S. Bernardo; a caldeirada preparada pelos pescadores Primo Maçarico e Manuel Caninhas, e os restantes pratos pelo cosinheiro do sr. Bispo-conde.”Não foram apenas os visitantes de Aveiro que se deliciaram com os famosos doces, mas, igualmente, os que apenas passavam de comboio em direcção a outros destinos e que gostavam de levar consigo o sabor dos afamados ovos moles.Durante décadas, a passagem pela estação de caminho-de-ferro de Aveiro fez-se ao som de um “aliciante pregão que se erguia alto, em arrastada toada a que um requebro final imprimia graciosa vibração: Querem comprar ovos moles, ou queques, ou mexilhões…?”Eis a actividade das vendedoras de ovos moles e mexilhões que, com o seu pregão, imprimiram um carácter pitoresco à cidade a que se atribuiu o nome de “Veneza de Portugal”.Este ritual suscitou a criatividade artística aveirense, sendo a actividade retratada emnumerosas obras de cariz popular como o 1 acto do II quadro (Os que chegam -Pregão de Aveiro) da peça de teatro de revista Molho de Escabeche, que se refere ao ofício das “vendeiras de gare” nos seguintes termos:
“Barriquinhas! Barriquinhas!
Quem quer? Quem quer? Quem quer?…
São beijos de tricaninhas, doces beijos de mulher!
(…)
Querem comprar
Ovos moles ou mexilhão?…
Quando o comboio chega,
Pouca terra… pouca terra… pouca terra…
O lindo pregão de Aveiro
Canta, baila, salta e grita, grita e berra.
Querem comprar
Ovos moles ou mexilhão?…
Em latinhas e barricas
Coisas ricas,
Nada há mais
Que nos console…
São delícias cá da terra,
E tudo berra
No pregão dos ovos moles.
Também a obra poética de Maria da Glória Basto aborda a cidade de Aveiro nas suas diversas vertentes, incluindo a doçaria.
Aveiro: Eu te saúdo,
Com profunda emoção!
Longe estou.
Comigo vives,
Adentro do coração.
(…)
Regressa já à Cidade:
Está o dia a findar…
É preciso fazer compras,
P’ra amigos presentear.
Tens muito onde escolher.
Mas não esqueças a «Doceira»…
As «raivas», os «ovos-moles»,
As delícias da «Costeira». (…)18
Apar das peças de teatro e de poemas motivados pelo tema, os ovos moles, também marcaram outrora presença em outras atividades carácter lúdico, designadamente nos desfiles de carnaval. Os ovos moles, são efectivamente um ex-libris da cidade de Aveiro, nela tiveram a sua génese e foram produzidos com aparência que hoje conhecemos. Com base na sua receita original e dando azo à criatividade das doceiras, procedeu-se a algumas experiências, nomeadamente, ao fabrico dos ovos moles cobertos de chocolate.Confeccionados inicialmente numa pastelaria de Aveiro (junto ao Tribunal), os “ovos moles pretos”, como uma figura eminente da cidade (Dr. Carlos Candal) os apelidou, surgem como uma variação da receita original. Consistiu essa adaptação em dar um banho de chocolate às hóstias recheadas com massa de ovo. Apresentavam geralmente a forma de um charuto, na tentativa de fazer uma imitação do produto original sendo inclusivamente nalguns estabelecimentos, comercializados em caixas destinadas ao acondicionamento do produto verdadeiro. As dificuldades inerentes ao seu processode produção ditaram um êxito pouco expressivo desta especialidade. O nome de Aveiro jamais se dissociará do conceito de ovos moles. Ainda que ocupe um lugar diferente na realidade das gerações atuais, este doce permanecerá para sempre ligado à cultura aveirense. Atualmente, verifica-se a existência de novas prioridades que são de extrema importância para a sobrevivência do doce que celebrizou Aveiro. Neste sentido, para credibilizar o produto e toda a fileira produtiva, foi criada em 4 de outubro de 2000, a Associação de Produtores de Ovos Moles de Aveiro (APOMA) que teve “por objecto
o fomento e garantia da produção genuína de ovos moles de Aveiro e a defesa dos interesses comuns dos associados (…)”.Em 2004 iniciou-se o processo de certificação dos ovos moles que culminou, em 8 de abril de 2009, com a publicação no JOUE da inscrição do registo dos Ovos moles de Aveiro como Indicação Geográfica Protegida (Reg.(CE) nº 286/2009).E assim se viabilizou a internacionalização do comércio dos ovos moles que permitirá que, não apenas os portugueses possam degustar com garantia de qualidade esta iguaria, mas que esse prazer seja uma atribuição universal.
Em maio de 1998, a Confraria Gastronómica de São Gonçalo reuniu algumas entidades que em conjunto pudessem proteger a genuinidade da receita (água, açúcar e gemas de ovos) e a forma tradicional da confeção dos Ovos Moles de Aveiro. Após algumas reuniões, este desafio ganhou força.
A Universidade de Aveiro, conjuntamente com alguns produtores, iniciou o processo de qualificação dos Ovos Moles através da caracterização físico-química, microbiológica e sensorial do produto;
A Associação tem como objetivo o fomento e a garantia da produção genuína de Ovos Moles de Aveiro e a defesa dos interesses comuns dos associados quer ao nível da fileira de produção, quer da proteção legal que lhe for conferida. Antes, cada um por si;
Atualmente, todos por um produto de sucesso.
A Associação tem como fins e missão o seguinte:
A Associação poderá ainda prosseguir todo e qualquer fim que se enquadre no seu objeto e esteja de acordo com os seus Estatutos.
PRESIDENTE: Maria João Sobreira dos Santos | Silvina Raimundo, Lda.
1º Secretário: Patrícia Paquete | Pastelaria Tricana de Aveiro
2º Secretário: Carlos Miguel Ministro dos Santos | Ministro & Santos, Lda.
PRESIDENTE: José Francisco Matos da Silva | Pastelaria Central – Sociedade Comercial de Pastelaria, Lda.
VICE PRESIDENTE: Rui Miguel Fernandes F. Almeida | Fabridoce – Doces Regionais, Lda.
Tesoureiro: António Manuel Almeida Santos | Venezabridge, Lda.
1º Vogal: João Carlos Génio Saraiva | Requinte de Génio, Lda.
2º Vogal:: Virgílio Mendes Porto | Espaço de Experiencias, Lda.
Suplente: Francisco Manuel Duarte Marques Vidal | Pastelaria Lotus de Vicente e Pereira, Lda.
PRESIDENTE: António João Figueiredo Novo | Carmina de Jesus Novo
1º Vogal: José Manuel Gonçalves Ferreira de Sousa | Margarida Sousa- Guida Gourmet Ovar
2º Vogal: Messias de Jesus Pequeno | Eurodoce de Messias de Jesus Pequeno
Suplente: João dos Santos Reverendo | Travelho e Teixeira, Lda.